domingo, 15 de junho de 2008

Crônica de Thais Matarazzo

É com grande satisfação que apresento aqui uma crônica escrita por minha amiga Thais Matarazzo.

Thais é engenheira e está estudando jornalismo. Há vários anos vem se dedicanco ao resgate de nossas cantoras da Fase de Ouro do Rádio, tanto de São Paulo como do Rio de Janeiro.

Aqui, ela nos conta sobre o encontro que teve com a inesquecível Aurora Miranda no texto "A Outra Pequena Notável".




A OUTRA PEQUENA NOTAVEL

Por Thais Matarazzo
S. Paulo, 1º-10-2007
Publicado em 3/10/2007, pelo INOVE


“- Alô, alô, senhores ouvintes, a sua PRA-9, Rádio Mayrink Veiga, tem o prazer de anunciar mais uma audição com a ‘Pequena Notável’, Carmen Miranda...”. Era assim que nos idos anos 30, o locutor, ou melhor usando o termo da época o “speaker”, César Ladeira anunciava os cantores e cantoras ante ao microfone da referida emissora carioca.

Carmen Miranda juntamente com Francisco Alves foram os grandes azes do rádio brasileiro. Mais, naturalmente, tínhamos outros artistas que não deixavam por menos... Entre estes está Aurora Miranda, minha cantora preferida daquela época.

Em 1934, Carmen acompanhada pelo Bando da Lua, foram realizar uma temporada artística em Buenos Aires, atuaram na Rádio Belgrano, poderosa estação Argentina da época. Aurora, irmã de Carmen, ficou no Brasil e além de atuar no seu “quarto de hora” precisou substituir a mana; então o “speaker” César Ladeira (o maior locutor de rádio do Brasil), que adorava criar slogans para os cantores, anunciou: “- Alô, alô, srs. ouvintes agora ouviremos ‘a outra pequena notável’...”, e o slogan pegou, Aurora passou a ser conhecida como a “A outra pequena notável”.

Seu timbre de voz é mais romântico e suave, afinadíssima! Depois de Carmen foi à cantora que mais gravou discos no Brasil na década de 30. Seu primeiro disco saiu em junho de 1933, pela gravadora Odeon, com a marcha junina “Cai, cai, balão” (Assis Valente) e o samba “Toque de amor”, cantando em dueto com Francisco Alves, que se dispôs a gravar com a novata cantora. Aurora era uma promessa, irmã da inigualável Carmen Miranda! Não era qualquer uma!

Seu primeiro sucesso relativo aconteceria no carnaval do próximo ano com a marcha “Se a lua contasse” de Custódio Mesquita. Durante o período de 1935 a 1939, Aurora viajou artisticamente quatro vezes para Buenos Aires, acompanhada por Carmen e o Bando da Lua, sempre obtendo êxito.

As comparações eram inevitáveis, Aurora parecia não se importar com isso. Conformava-se em ser Aurora Miranda, a irmã da Carmen Miranda. De temperamento alegre e tímido Aurora fez o Brasil inteiro cantar o Rio de Janeiro como a “Cidade Maravilhosa”, marcha que o compositor André Filho deu a ela em fins de 1934. Ganhou o 2º lugar no concurso oficial de sambas e marchas do Rio de Janeiro em fevereiro de 1935.

Em abril de 1939 Carmen é convidada a ir para os Estados Unidos. Aceito o convite parte junto com o Bando da Lua para temporada de 16 meses. Aurora continuou sua carreira no Brasil, deixou a Rádio Mayrink Veiga e foi para a Rádio Tupi, também passou a cantar no lendário Casino da Urca. Neste ínterim, o cupido entra em cena e Aurora conheceu aquele que viria a ser seu futuro marido Gabriel Richaid.

O casamento se realiza em setembro de 1940, tendo como madrinha a irmã Carmen e o Dr. Paulo Machado de Carvalho, diretor da Rádio Record de S. Paulo, onde as irmãs costumavam fazer temporadas pré-carnavalescas. Como dizia o sábio jornalista Mauro Pires, Aurora se “aposentou pelo casamento”, deixou a carreira de lado, passando a cuidar do seu lar.

Em 1942, Aurora e seu marido vão ao encontro de Carmen e Dª. Maria Emília, a mãe, nos Estados Unidos, por influência de Carmem, ela passa a se apresentar em alguns night-clubs, e também faz pontas em alguns filmes, dentre todos, o que ela ganhou maior destaque foi em “Three Caballeros”, que no Brasil ganhou o título de “Você já foi a Bahia”, de 1945. Aurora aparece na famosa cena com o Pato Donald e Zé Carioca, cantando e dançando o samba “Os quindins de yayá” (Ary Barroso), a cena se passa na Bahia e ainda conta com a presença dos rapazes do Bando da Lua, tendo destaque para Aloísio de Oliveira (líder) e o violonista Zé Carioca, que inspirou Walt Disney a criar o personagem do papagaio homônimo.

Em fins de 1951, Aurora volta para o Brasil juntamente com seu marido Gabriel e com dois filhos que nasceram na Califórnia: Gabriel Jr. e Maria Paula. Volta a cantar por um tempo, grava alguns discos e abandona a carreira definitivamente. Com certeza Aurora deixou sua bela voz registrada na memória da música popular brasileira, nas mais de 150 gravações que fez.

Conheci Aurora Miranda no verão de 2001, no Rio de Janeiro, para mim foi uma enorme felicidade, pois como já relatei, é minha cantora preferida. Quando cheguei ao seu apartamento, no bairro do Leblon, acompanhada de minha mãe e irmã, Aurora estava sentadinha no sofá. Ela sorriu para nós três. Acho que pensou que minha mãe era sua fã. Então expliquei que no caso era eu mesma. Disse da minha admiração pela sua voz, por sua devoção com a irmã Carmen, etc. Ela ficou muito feliz, segurou a minha direita durante todo tempo em que ali permaneci; já não estava se lembrando muito das coisas e já não falava muito bem. Mais senti forte seu sentimento de gratidão, por ter se lembrado dela. Ela percebeu que também foi uma cantora muito importante e que tinha uma fã individual só para ela, não precisava dividir com Carmen...


Thais e Aurora Miranda.


Carminha, Thais e Cecília Miranda (sentada), irmã de Carmen e Aurora Miranda.





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